14 dezembro 2009

aconteceu comigo

Quando era pequena, com uns três ou quatro anos, como todo mundo da minha idade, acreditava que existia um Papai Noel. Mas que era alguém da minha família, muito chegado mesmo. Pois só assim, ele saberia certinho o que cada um queria de presente de Natal. Acreditava que cada família tinha o seu. Era muito feliz assim. Numa noite do dia vinte e quatro de dezembro, perto da hora em que o nosso Papai Noel costumava chegar, fui ao quarto de meus pais e vi minha mãe vestida com uma roupa que era um blusão vermelho de mangas compridas e calças compridas da mesma cor. Roupa essa com uma beirada de pelúcia ou pluma branca, isto é, roupa de Papai Noel. Naquela época, não era comum minha mãe usar calças compridas. Mas, as estava usando e vermelhas ainda. E com debrum de pelúcia branca. Nossa, o que era aquilo? Será que era minha mãe vestida de Papai Noel? É isso mesmo. Minha mãe era o nosso Papai Noel. Que surpresa! Que linda surpresa! Só estava faltando mamãe colocar o gorro vermelho que já vinha acompanhado de barba e sobrancelhas grossas e brancas. Era assim que ela ficava irreconhecível. Mamãe olhou assustada para mim. Com os olhos feito duas jaboticabas enormes, sem conseguir falar nada. Eu, como já era muito espirituosa fiz aquele gesto de silêncio, quando a gente põe o dedo indicador nos lábios e falei pra mamãe: Chiiiiiiuuu. Não vou contar pra ninguém. Pode deixar. Minha mãe, depois de muitos anos eu soube pela minha irmã mais velha, ficou em pânico. Mas achou muita graça, pois a festa toda, a encenação do Papai Noel, era praticamente feita só para mim. Os outros, já maiores e com mais idade, já sabiam de tudo. Era a magia feita para mim. Algum dia isso aconteceria. Acontece com todas as crianças. Uma hora ou outra ficam sabendo da inexistência do Papai Noel, ou de quem ele é. Eu as vezes me lembro, achava que era meu pai. O nome já dizia, Papai Noel. Mas como meu pai sempre estava por ali, cortando as carnes, ou executando alguma tarefa de última hora, não podia. Mas minha mãe! Como que eu nunca pensei nela? Não notava sua ausência ou se notava, achava que estava na cozinha cuidando dos preparativos, sei lá. Mas minha descoberta não podia ter sido mais serena. Mais gostosa. Ainda falei em tom de segredo para minha mãe:
Então é por isso que Papai Noel acertava sempre não é? Aquele não foi o último ano que mamãe se vestiu de Papai Noel. Virou tradição. Até mesmo entre os vizinhos. Mamãe era chamada para entregar os presentes de outras crianças que moravam próximas a nós. E é claro, eu ia junto, com aquela cara de arteira, que tinha a chave de um grande segredo. Me divertia muito com isso. Uma lembrança para nunca esquecer. Coisas de criança feliz!

4 comentários:

Marly disse...

Welze,
Essa é uma lembrança para não esquecer mesmo! Sua mãe é das minhas, sorte sua a de tê-la como mãe!
Beijinho e ótima semana.

Tati Cavazim disse...

Puxa Mama, lembrar de Vovó dessa maneira é mágico demais.. Agora ela é a nossa estrela guia, foi promovida a encantodora de sonhos.
Ela era, linda, cor de rosa e cheirosa....

Nane Cabral disse...

Olá Welze, muito bom lembrar a infância, os momentos bons coma família. Lindo post,amei! bjo grande, Nane www.vovoqueensinou.blogspot.com

Glorinha L de Lion disse...

Olha Welze, sempre me delicio com suas estórias da infância...vc tem um jeito de contar encantador.
Deveria escrever um livro de memórias...ia virar best seller!
Eu ia querer autógrafo!
Beijos, minha querida...é sempre muito bom estar aqui.