QUER COMPRAR BRIGADEIRÃO?

Essa foi a pergunta que ao atender a campainha, numa manhã dessas, um rapaz bem vestido, muito bonito, me fez. Ato contínuo, descobriu uma assadeira de alumínio, super brilhante, cheia de brigadeiros enormes, cobertos com um pouco de chantili, chocolate granulado e uma cereja maravilhosa por cima de tudo. O pano que cobria a assadeira era de um branco imaculado. Quando olhei para os doces e eles me fitaram, quase não resisti. Eram lindos, grandes, coloridos, perfeitos para uma doçólatra como eu cair de boca. Mas, bravamente resisti. O que ocorreu foi que quando ia respondendo que não queria e agradecia ao rapaz ele me sai com essa:

- Minha mulher está gestante, não passa nada bem, teve que sair do emprego por uns tempos e está fazendo esses doces e para ajudar ela, eu saio vendendo.

ARA ARA ARA. Como assim? Achei que era só recusar o doce, mas não pude evitar de estender o papo. Perguntei-lhe:

- Como é que é? Sua mulher está grávida, não passa bem a ponto de não poder trabalhar, mas ainda assim, faz brigadeiros, enfeita-os com essa roupa de festa e você tem coragem de dizer que está ajudando a ela? E a quem ela está ajudando? Ela não está fazendo isso para vocês? Como você tem coragem de dizer que está prestando um favor a ela? Cara toma tenência. Você sabe fazer brigadeiro? Dá trabalho. Se ela não está bem, como deixa que ela trabalhe ao invés de repousar?

O que ele me disse foi a gota que provocou um Tsunami:

- É fácil fazer, não dá trabalho não?

- Ah, não dá, então porque você não os faz e sai vendendo? Garanto que se chegar numa casa, contar que sua esposa não está bem, carecendo de repouso e que você, para ajudar nas despesas está fazendo e vendendo os doces, será muito melhor recebido. Olha cara, acho melhor você tratar e valorizar muito bem a mulher que tem, pois ela é uma guerreira. Dá mais ajuda lá em casa, menino.

Ao que ele, de olhos arregalados disse:

- Não dona, pode deixar que ela está bem, não se preocupe. Ela está bem e gosta de fazer. Mas tudo bem. Outro dia eu passo se a senhora não quer hoje.

Para finalizar eu disse:

-Se você fizer os doces e voltar aqui com eles, feitos por você de verdade, eu os compro. Mas terão que ter sido feitos por você. Não vale mentir. Só você vai saber, mas fica na sua consciência.

Ele deu uma risadinha e saiu dizendo que isso ele não faria por ser esse um serviço de mulher. ARA ARA ARA de novo. Durma com um barulho desses. Esse não tem jeito. Tomara que não apareça mais por aqui. Acho que não volta não.