LINGUIÇA ASSADA

Adoro linguiça assada. Na brasa, no forno, frita, em feijão, qualquer jeito. Ando manerando por conta da saúde, mas que gosto gosto. Isso me lembra de uma fase da minha infância, quando morava na Vila Amélia. Na rua Augusto Franco, a da minha casa, tinha uma fabriqueta de linguiça. A dos Pignatta, ou Pinhata, como falávamos. Faziam a melhor linguiça da região. Senhordaglória! Que saudade. Dá até água na boca. Pois bem, teve uma época que eu, minha Pê, nosso irmão Leléco, toda noite, nos juntávamos a outros garotos para a farra da linguiça. Essa farra consistia em arrecadarmos linguiça dos Pignatta, através de seus netos, de graça é claro, numa quantidade satisfatória para toda a turma. Linguiça essa que era assada em fogueirinhas feitas na beira da calçada. No meio fio, entre a calçada e a rua. Para o fogo, surrupiávamos fósforos de casa e queimávamos jornais. Montes e montes de jornais. Só que imaginem, assar linguiça em fogo produzido por queima de jornal? Mas nem que a vaca sorrisse, a linguiça assava. O fogo acabava e a danada continuava crua, quando muito, chamuscada. Mas crua. Mas comíamos mesmo assim. Ou por outra, por ser assim. Era o manjar dos deuses(ai). Até que um esperto achou de torcer as folhas de jornal para que elas resistissem mais tempo com o fogo. Depois veio a ideia de juntar às folhas de jornal, gravetinhos. E logo estávamos com verdadeiras fogueiras, assando nossa linguiça. Nada mais delicioso. Nada mais afetivo que estar numa roda de amiguinhos, no relento, assando linguiça com fogo de folhas de jornal e gravetinhos. Ô coisa boa. Ainda bem que me lembro sempre disso. Assim, vivo novamente esses momentos.