18 junho 2010

JOSÉ SARAMAGO


Poema à boca fechada


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.


Perdemos esse grande homem das letras. Aos 87 anos, morreu José Saramago

4 comentários:

Juliana Castro disse...

Maravilhoso Welze.. uma grande perda sem dúvidas!

Bjs

Anônimo disse...

Certamente o mundo literário perde um dos seus mais brilhante e talentoso ícone.
Grande perda....
Que ele descanse na paz do Senhor.
Gisele.

Patrícia Gomes disse...

Uma perda que não dá nem pra ter noção do seu tamanho.
Adoro os livros dele...
Que descanse em paz esse grande poeta e escritor!!

Xerinhos, frô querida!
Paty



PS: Ah, tomei a liberdade de divulgar esse post no meu twitter, viu!

Fla disse...

Uma pena né... fiquei muito triste.
Bjs